quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carneiro em pele de lobo

O inimigo bebeu da minha água. Não, o inimigo não só bebeu da minha água, ele já me olhou nos olhos, sorriu, me abraçou e aí sim, pediu para beber da minha água. Deixei, não sabia o quanto as pessoas são detestáveis, traiçoeiras, canalhas e ingratas. Em baixo de um sorriso largo, um elogio faustoso, mora o vácuo. Nunca temi tanto os elogios, nunca sei o quanto serão sinceros ou vazios. Não sei mais o que é a lealdade do outro, só sei da minha lealdade, castigada. E aqueles que sinto calor, começo sentir a maldade. Não era para ser assim, não acredito na minha própia espécie, não confio mais em quem um dia, chamei de amigo. Não permito mais esguios, não aceito mais anísios, não recebo mais amigos, não enfeito mais meu riso, não aceito mais pedidos... Não quero o sociável só para a convivência... Me mudo para um mundo tão meu, onde a vida é tão rápida que nem a vejo passar, onde apenas o sentir com a alma ganha mais forma do que o sentir com a pele; onde os cães são reis. Cães, realmente quanto mais conheço os humanos, mais invejo a conduta canina. Conduta, tão adulta, tão nula entre as pessoas nada boas e tão bobas que me sinto à toa quando soa a verdade. Eu vivo uma verdade, eu digo a verdade, mesmo sendo a minha e assumo o quanto me inibe quando a moeda de troca sentimental não é de ouro quanto a minha. Repudío a falsidade, me causa náuseas a dissimulação e ao contrário de muitos, sou um carneiro em pele de lobo. O que morde não são meus dentes, mas sim minha honestidade.







Jordana Braz

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Alfinetes

Não posso dormir, seja pelo cansaço ou pelo frio, não quero dormir. Existe uma maldade no ar que se dormir, inalo involuntariamente, tornando os sonhos em pesadelos e a noite em dias nublados, vazios. Acordada, me calo para não escapar toda instabilidade de dentro. Meus sentimentos são alfinetes caídos em chão liso e eu, não uso sapatos. Nem sandálias, nem meias. Meus pés são nus em chão liso com alfinetes espalhados, por todo canto. Sentimentos são alfinetes, mas alguns os mantém na caixa e usam apenas quando necessários e outros, calçam sapatos. Não sei o que é ser organizada. Vejo vidas tão planejadas, tão perfeitas, que ao sentir a minha, é só um sentir. Sentir... ô palavra que só tem sentido para mim! Meus calafrios sempre indicam perigo. Eu sinto muito mais que vivo, não vivo paixões, eu sinto paixão. E não vejo mais a culpa só naqueles que julguei filhos de rapariga um dia, a mais filha da puta sou eu, que dei moral para pessoas que não queriam. Um enfiar intensidade garganta à baixo de pessoas sem garganta, lástima. Reaprendo sempre que a diversidade é uma característica desse mundo. Enquantos uns dormem, coleciono olheiras e furos nos pés. Que meu sono chegue quando realmente for necessário.








Jordana Braz