segunda-feira, 23 de março de 2009

Crise existencial do caminho

Não possuo vida embora viva em uma estrada. Não tenho tempo mesmo que com o passar do tempo, me descasque. Não tenho família, amigos, ninguém que me valorize. Tenho apenas iguais e alguns que me seguem, precisam de mim ás vezes, assim existo por um instante: provendo sempre mais um pouco de vida sem querer... Sem querer, eu penso. Pensar... humano demais isso... Eu trago escritas comigo que provem um pouco mais de vida. Minhas tatuagens... Outras iguais como eu trazem desenhos de homens em negrito, setas, etc. Não sei se elas gostam de ser assim, como eu. Eu não gosto, não gosto de ser quem sou. Nasci de ferro mas não sei quando, não sei quando inventaram meu ancestral e nem o dito cujo que seria o criador, mas enfim, isso é minúsculo, nem é tão ruim assim... O pior de tudo é que sobre mim e meus iguais são depositadas responsabilidades como indicar o caminho á quem passa sem saber, tutorar. É complicado essa coisa de tutor, se algo dá errado, a culpa é do tutor. Ainda mais um tutor que não tem vida... Eu faço meu melhor sempre. Fico aqui parada, haja sol, haja chuva, trovoada... Passam os carros acelerados, os mesmos carros com as mesmas pessoas, não sei... Espero que assim seja. Sinalizaria que exerço bem meu trabalho além de demonstrar que os motoristas são cautelosos. Não é agradável olhar um carro passando e imaginar que ele pode nunca mais fazer este trajeto, seja pelo bem, seja pelo mal. Sabe, quando se referem a mim, usam um artigo feminino... Deve ser por isso que além das letras, trago isso de tutor... Tutora. Coisa de mãe. Carinho. A pouco disse que não gostava de ser quem sou, corrijo isso agora. É bom servir como guia, indicar o melhor caminho, a melhor maneira de fazer o caminho... Gratificante, sabe? É... gratificante, essa palavra é a ideal. Fico grata quando me olham, quando sou vista atentamente... Fico mais grata ainda quando fazem direitinho o que indico, como uma mãe grata por ter sido obedecida pelos filhos. Filhos humanos de uma mãe placa... Quanta blasfêmia, mas me vejo assim, como mãe. Uma placa não é apenas uma placa. Eu não sou desprovida de valor. Sou feita de ferro, trago escrito informações importantes para os motoritas que passam rumo não sei onde... Pois bem, eu não tenho uma vida propriamente dita mas colaboro com esse mundo, com esses humanos. Mantenho uma vida que não tenho, indico caminhos que não farei, vejo todos sem poder retribuir com os olhos, mas tenho sim vida. Uma vida de placa que vive em uma estrada. Minha estrada, minha casa... Ah, se eu escolhesse uma frase para ser escrita no lugar das já existentes, seria a frase "Um bom filho à casa torna"... Deve ser isso que as mães humanas trazem no coração.


Jordana Braz

quinta-feira, 12 de março de 2009

Coração em um quarto

Noite, calorosa noite. Enquanto muitos dormiam cobertos por lençóis lavados, sozinhos ou acompanhados, Joana pintava as paredes. Ela poderia pinta-las á tarde, durante o tempo entre a pestana do almoço e o café da tarde mas não, era á noite que a solidão apertava. Paredes de um quarto, seu quarto. Quantos sonhos já ficaram limitados entre aquelas paredes na mente em sono de Joana, quantas orações a Deus, quantos devaneios, surtos e Tpm perdidos naquele espaço… um pequeno mundo. Um quarto e lembranças de amores perdidos. Era essa a causa da solidão e da pintura noturna da moça em seus 20 e poucos anos.
Joana não tivera muitos romances mas estes não muitos foram realmente amados por ela. Talvez somente por ela. Amava pelos dois. Um desequilíbrio visto por todos menos por ela, que só costumava a ver esse descompasso meses após a última lágrima do rompimento que até então não foram decididos por ela.
- Minha filha, isso passa… - dizia Dulce, mãe de Joana.
- Moça carente… - diziam os rapazes da vizinhança.
- Mulher chiclete demais, vixe Maria! - diziam seus ex-homens em coro.
- Um dia você muda, Joana! - pensava Joana sobre si mesma.
Pensava… um dos seus hobbies favoritos era esse, além de se contemplar ao espelho, cozinhar e pensar. Joana perdia-se em meio a tantos pensamentos. Um a ligava com a existência ou não de um átomo e outro com respostas que ela deveria ter dado á fulanos na infância. Se átomos existem ou se aquelas respostas de criança seriam corretas, tanto faz. O que incucava mesmo a jovem era o por quê seus romances terminaram. O que teria feito ela para que tudo que era lindo, perdesse a graça... E quando um desses por quês apareciam nos pensamentos, a punha em conflito com sua estima. Joana era uma jovem bonita, não era o padrão, dificilmente estamparia uma revista de fitness ou um catálogo de biquínis, mas era bonita sim. Dentuça, tornava seu sorriso gigantesco. Um sorriso iluminado que constrastava em harmonia com sua pele mestiça de cor firme. Magra mas com barriga, Joana gostava de usar vestidos, lindos e floridos.
E o pincel movia-se sobre as paredes. Tinta verde escorre sobre ela. Uma parede que já foi amarela, roxa e massa fina. Tijolo e cimento. O pincel alternava com um rolo com lã de carneiro. Pobre bichinho… E o sono aperta, bocejos a cada 5 minutos expressam o cansaço. Quem pintaria o quarto no decorrer da madrugada? Só Joana. Ela tem pressa. Não quer mais ver a parede amarela, assim como na época em que trocou o roxo pelo amarelo. Confusa. Aquelas paredes sabiam demais, as cores nelas traziam cheiros. A sinestesia trazia para Joana todos os momentos e o rosto que ela queria esquecer. Precisava esquecer.
E esquecerá... assim como já se põe o dia pela janela do quarto, o coração de Joana se faz madrugada.

Jordana Braz

sábado, 7 de março de 2009

Pequena, poucos e simples

Conheço romance pelos livros,
Vivo os amores de música, sinto mãos dadas nas pinturas
Apenas assim... minhas mãos são sempre vazias.
Os olhares voltados à mim vejo de momento
E se vão com a mudança de cor do farol.
Meu rosto marca que espero um amor amado...
Certeza.

Amor de alma, aquele que nunca muda.
Nem para ódio, nem para compaixão.
Pleno e amigo... tão simples, tão paciente
E tão sincero que me magoaria pela verdade
E nunca por uma mentira.

Eu só sei amar assim,
Um amor confiado... Que se ganha com o tempo.
Não um simples encantamento, não existe amor á primeira vista.
Amor assim é fingido... Amor de um vasto coração leviano.

Sou de pequena, poucos e simples:
Pequena família, poucos amigos e da simplicidade de um homem
Que ainda não conheci.

"E para os dias de amores confiados em vão, só a desventura da ilusão;
Que passa com os segundos das horas e que evapora com o fervor do otimismo."

Meu coração me disse isso.


Jordana Braz

domingo, 1 de março de 2009

Torre

Chega, nunca foi amor.
Nunca foi verdadeiro, nunca fez bem... Ainda não passou.
Justo quando sua vida está certinha, volta e abre aquela chaga... Chega.
Nenhum coração suporta se enganar tantas vezes.
Nenhum olho se enobrece chorando.
Desculpas: era isso que deveria ser dito
E um adeus em até breve em seguida.
Quando se perde a confiança no ser, pano quente não cobre.
Não dá para rir o riso justo de velhos amigos...
Somos o que deixamos nas pessoas
E no meio do peito não há uma pedra e sim um espelho
Limpo e sem marcas de dedos...


Jordana Braz