segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O parvo

De longe ele era o cara: todo o velho charme que os caras de hoje em dia não nasceram ou não fitaram dos filmes preto e branco, sobrava em uma só pessoa. Com mais um passo à frente, percebi que era religioso pois havia um escapulário de anos, mas novo, no pescoço. Mãos secas de trabalho ou por falta de cuidado, talvez ele não tenha se relacionado ao ponto de uma garota lhe passar creme nas mãos. Não sei, foi o que havia pensado. Teria sido ideal se meus passos ficassem por alí. "Bom rapaz, direitinho, desse jeito não tem mais", já escreveu Tom Zé e até hoje, é a pura verdade. Contemplei o que seria o achado, alguém que eu teria que ter paciência e quiçá, ser o homem da relação. Nossa, eu como homem... se sendo mulher já sou cismada, imagina fazendo papel de homem? Mas como arriscar só ensina a viver, mesmo que não dê certo no fim, arrisquei. Cortejei achando que esse seria o caminho mas não foi! Dei mais dois passos e vi que não era bem assim. O bom rapaz ficou apenas na música e se fosse o caso de um "cara com cara de santo mas que pega fogo" até seria bom! Não me faria mal nenhum ser pega, literalmente, de surpresa! Custei a ver que a bondade que pairava era algo, no mínimo, estranho, confuso. Ele quis casar comigo sem ao menos me tocar! Foi confuso... O meu lado masculino ficou mais feminino do que é, quando escutei isso; uma mulher racional, sem sentimentalismo desses que ainda me faziam pensar ludicamente. Ele teria sido apenas meu amante, eu só quis saber se aquele cigarro tragado de forma old school me faria sentir o mesmo prazer que demonstrava na boca. Ele teria sido meu coroinha, pois me encantou a idéia de ensinar o lado sujo que a igreja não prega. Ele poderia ser... poderia ser mil coisas, menos sonso. Uma decepção como homem, como amigo e não sei mais. E eu sou um erro. Jamais alguém acreditaria em algo assim, ninguém aceita solidão na companhia de alguém. Ninguém aceita um cansaço quando é para se negar um beijo. Ninguém aceita escutar " fui sonso, covarde" e ainda assim, crer que tudo que aconteceu foi real. Crer que está tudo bem. Um sonso lidando com uma tola é isso, dá nisso: mais uma história cabulosa para os outros e inadimiscivel para si mesma.






Jordana Braz

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ócio

Nunca existiu outro alguém. Talvez eu preferi que existisse alguém, mesmo que na minha mente, para não assumir o tanto que você esteve em mim. É confuso, eu sei. Ao querer te enganar, enganei a mim mesma. Quis que você ficasse por eu estar aqui, quis a sua companhia até o fim. Que apego é este que não deixa eu perceber a efemeridade da vida? Você foi um momento, meses no qual não esquecerei tão fácil, um amigo desses que queremos como um amante, mas que o amor se fez fraterno. Aliás, não disse o quão fraca sinto por sempre escutar " eu não soube te amar". Existem homens que não sabem amar ou existem mulheres que não sabem fazer serem amadas? Cansei de buscar explicações e me contento com o " não era para ser". É um ócio, é um vício, é um desespero de sentir algum sentimento que não tenha sentido. Paixão tem sentido?






Jordana Braz

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

De volta para casa

Oh! não chore! Não! calma! Não foi a primeira vez e não será a última... Eu sei! Dei mancada mais uma vez, mas fazer oquê? Sempre caio na doce ilusão de ter acertado o dedo na escolha de alguém... Ainda não dei sorte, nós sabemos, mas vamos que vamos! Humm... Eu já havia lhe prometido que não me encantaria por outro alguém... Os homens são complicados, adoram mulheres que judiam e as bonitinhas como eu, amanhecem sozinhas, provavelmente escrevendo em algum blog ou mandando um email para driblar a solidão. E como essa solidão me castigou! AHH não, não volta a sangrar coração! Seu choro é lágrima que nutre minha decepção... A culpa foi minha, mais uma vez, de ter acreditado que tudo seria diferente! Mas da próxima, não empurrarei mais com a barriga: se me sentir sozinha mesmo acompanhada, abandono sem satisfação! A gente fica com apego, xamego, achando que todos são bonzinhos demais... Eu sei, tola fui em crer que exista o homem bom. Homem bom é uma mulher agindo como eles, mulher forte acaba sozinha, minha mãe é assim e minhas amigas queridas também; porém, essas não se apegam! Só eu... ahh mas chega de xororó né? Vou te remendar coração e te voltar no meio do meu peito. Vamos seguir que ainda há um dia lindo amanhecendo!



Jordana Braz

sábado, 12 de dezembro de 2009

Descobrimento do Brasil

O samba me deixou mais feliz. Ele é a simplicidade em melodias e letras, de cotidiano tão suburbano, onde o negro meu avô é herói; a mulata minha mãe é rainha, o rapaz sem dinheiro é meu pai e a pessoa que escuta sou eu. Os solos de guitarra não sumiram da minha vida, o sax triste não abandonou minha mágoa, apenas a felicidade do samba me contagiou. Tão lindo, chegou em mim na forma de ser brasileiro; não foi como sambista de morro ou o passista da zona norte. O samba veio pra mim na forma de estudante paulistano, que não mostra no rosto a ginga que tem. No auge do meu ritmo, o samba no pé sai tímido, mulata que por anos não via na brasilidade brejeira dos cabelos crespos e no quadril bonito, motivos de orgulho. Ser brasileira era vulgar, hoje é minha alma, minha história e minha pele de canela, café e quindim. O samba me deixou mais feliz, AH! deixou sim! O ronco da cuica combina com sorriso bonito, o pandeiro e o cavaquinho combina com tudo que traz o bem estar, esteja sentado ou sambando, acompanhado ou sozinho. Seja uma mulata ou quem aprecie o samba, seja café com leite ou o tradicional cappuccino, todo brasileiro é ufanista, todo samba traz na melodia exaltação, mesmo que seja um samba-canção; o Brasil é tão lindo que me enche os olhos, o chorinho sempre acompanha os nascidos nessa terra e aflora naqueles que optam em serem brasileiros. Sinceramente, nasci brasileira e deixei de lado por muito tempo, talvez, o maior atributo nos que aqui nascem: a felicidade!





Jordana Braz

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Jazz mais Blues

Já me decepcionei tanto que cada pessoa que passo a conhecer, não crio expectativas boas. É triste mas é a verdade. Uma atenção cordial, uma gentileza que me faz tão bem, fazia aliás, é motivo para desconfiança: " Não, não existe gentileza que dure uma vida toda". Nada dura uma vida, visão pessimista que a idade traz. Visão real da vida que é tão minha. Decepção que traz mais decepção não só com as pessoas que não sou, mas com a pessoa que sou. Ora, como quero que o mundo seja gentil e confiável comigo se eu mesma não sou fiel á mim? Trago nas lembranças uma navalha que sempre que começo a recordar, me corta, me rasga. "Não deveria ter feito nada daquilo", a navalha que me corta é a culpa. Meu estado de espírito soa jazz mais blues, com gosto de vodka e na forma de cinzeiro para um cigarro que nunca acendi. Ora, como quero outro estado de espírito sendo que o hábito faz a natureza? Minha natureza tem como hábito o abandono e mesmo que um dia o hábito seja a adoção, o primeiro que adotarei será aquele que sempre deixei de lado, eu.







Jordana Braz

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Medo e sem Pedro

Seja a moça com cheiro de mexerica, a mulher que anda manca, o cara desdentado e sem dinheiro, a quarentona solteirona, aquele seu conhecido que ainda depende dos pais... Sejam eles todos os seus medos, não os tema: quanto mais medo se tem, mais o seu medo tornará você! Não tema a solidão, o fracasso, o peso na balança e o nada , quando se tem medo, tem cheiro! Vira um imã destes que não são usados como aqueles da geladeira. Quem escreveu isso aqui pode ser a pessoa mais medrosa do mundo que não quer ter concorrentes, então, quem ler esse texto, tenha como meta ser o seu oposto: a pessoa mais corajosa do mundo ou a mais corajosa do seu bairro: a vida muda do micro para o macro! Não substime ninguém ,não julgue e não se compare; essas coisas geram o medo de ser como alguém que não tem culpa de ser como é! Aliás, são o que são e isso basta! Ao pensar que o inferno são os outros não olhamos que o verdadeiro inferno está queimando dentro de nossas mentes.






Jordana Braz

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Viver é esquecer!

Acordei com ele na cabeça, aqui, presente. Meus olhos abertos deram o dia como certo; era o dia de esquecer... Mas esquecer o quê realmente? Não soube na hora. Talvez quisesse ter motivo para dizer algo que meu orgulho leonino não deixava havia meses. Talvez quisesse ter mantido ele perto mesmo longe, mas acomete aqueles que amam uma vontade de fugir quando tudo termina assim: sem mais, sem menos. Fugir para esquecer, proteger os cacos que sobraram da alma. Fugi pra tentar ser feliz e o melhor, consegui! Inclusive consegui de uma maneira que jamais imaginei. E sigo assim e fico assim, feliz por ter me esquecido que já chorei por alguém, que já não sou a mesma e que ele, também não é o mesmo! Ele tá diferente, um homem... senti isso ao ver uma foto. Achei que sentiria ciúmes caso soubesse que ele também tem outro alguém, mas não senti! Fiquei maravilhada com a vida, de como ela muda, a maneira que o tempo se faz instável. Fiquei feliz por ele estar vivendo bem e talvez muito bem acompanhado, assim como eu. Amanhã é dia de voltar para casa com o meu namorado e espero que ele, o que acordei na cabeça, tenha sempre alguém ao lado. Esqueci dos momentos que eu o quis só para mim. As pessoas são do mundo e eu sou da vida, assim concluo que viver é esquecer e eu esqueci completamente que um dia eu quis adiar o futuro em que ele não seria presente comigo; estamos nele agora e eu o desejo toda a sorte do mundo!



Jordana Braz

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Fidel

Clarice vivia assim; seu amor na rua era João e em casa, ela era amor de Fidel, o cão. Clarice sorria, dançava, pensava e na rua tinha em João companhia e em casa, Fidel olhava a janela sem entender o porque Clarice saia. Nunca soube a que horas ela partia e o tempo que perdia no trajeto, pois para cães, a contagem do tempo não existe. Toda vez que ele a via saindo, era sempre a última vez de Clarice em sua vida, um adeus diário que mantinha Fidel na janela. O amor de Clarice por Fidel era um amor humano.

O amor de João por Clarice talvez um dia existisse, pois a paixão dele por ela era racionada, escassa, não diária. Mas diferentemente, os sorrisos eram constantes, sorriam juntos. Sorrisos demais para o tempo que não existia para Fidel, que ao faro, faz viva Clarice á quilometros. O cheiro de Clarice é a única certeza que as saídas, não são adeus, ela voltaria e prontamente, ele estaria na porta quando o cheiro dela estivesse a metros, depois a passos até finalmente abrir a porta de casa e lhe emitir sons incompreensíveis, porém bons, já que logo vem carinhos à cabeça, coçadinhas na barriguinha e um carinho de humano para cão. Fidel via em Clarice sua versão humana, não havia outro humano melhor do que ela.


O amor de Fidel por Clarice era Canino. O amor de Clarice por João nasceria humanamente, não tinha paixão mas tinha certeza que a paixão antecede, em muitos casos, o amor ou o rancor. Ela queria sentir paixão por João, dedicava-se a isso e muitas vezes sentia que era quase um monólogo, apenas ela pensava na dedicação. Mulheres sempre acreditam em relacionamentos. Homens desconfiam, nunca sabem como lidar com a decisão que nelas há de sobra e neles, faltam muitas vezes. Os cães sabem amar apaixonadamente sempre,com devoção pela vida toda. Não enjoam, sabem que o tempo não existe e que o agora é a única certeza. Instintivamente Fidel, como bom cão que era, sabia disso! Fazia tudo que ele poderia fazer, dentro do possível canino, para deixa-lá bem. Mostrava que Clarice, por mais chata ou inchada que estivesse, era única. A mais bonita, linda! E quando a via pensando, não entendia o porque ela parava. Sentia muito mais que via. Ele sentia quando ela estava triste e sabia que só um humano seria babaca ao ponto de magoar sua musa.


Um belo dia, desses que faz azul de manhã e cinza à tarde, o amor da rua e do lar se conhecem. Os dois em comum possuiam apenas Clarice em suas vidas e João, sendo homem, tinha olhos de cão arrependido. Fidel, naquele momento, olhou João com olhos de homem. Aliás, de homem pois no olhar havia ciúmes, mas eram olhos de amigo, um amigo vingativo. Ele estava diante daquele que fazia sua musa, dona, mãe, santa e tudo que eleva uma mulher à um status superior das demais mortais, ficar triste.
Fidel queria poder emitir sons humanos naquela hora, queria muito dizer:

- Cara, eu queria estar na sua pele! Ela é o melhor humano que conheço! Não joga fora esse privilégio, otário! -Mas se contentou com seus latidos.

João que não tinha cães, mas uma gata, sorria:

- Olha, que cãozinho bonito!- Entre os cantos da boca, procurando aproximação com o cão.

- Shiu! quieto, amiguinho!- Disse em tom sereno mas com pesada impaciência.

- Ele só está assim pois logo irá tomar banho!- Causa que Clarice disse apenas para amenizar a antipatia de Fidel por João.

Assim, a conversa entre homem e mulher seguiu. Fidel, ali parado, com cara de tacho. Com cara de cachorro, coçava. Deitou algumas vezes sobre os pés de Clarice, cochilou e quando uma pulga ou outro cão lhe despertava, latia e voltava para a mesma posição, algumas vezes de olhos abertos, outras não. Fidel pensava, sonhava... Mais pensava do que sonhava pois o cochilo foi falso. Ele apenas preferia pensar com os olhos fechados. Não queria acreditar no que via: sua Clarice como um doce, com carinho com um humano. Clarice era dele e vice-versa, isso na sua concepção de amor. Clarice realmente o amava, como um humano e seu bichinho de estimação. Fidel amava com o amor que Clarice queria um dia ser amada, por João ou não. Clarice queria um homem que a amasse como um cão, um amor decidido e leal. Fidel era o homem certo, que nasceu anatomicamente cão. Comparar um cão com o bicho homem, sem gênero, é covardia! Os cães são superiores por mais que nos olhem de baixo. A lealdade e a decisão canina é algo da espécie. Clarice com o tempo, aprendeu: o que faz uma mulher feliz é a decisão, que em muitos homens falta enquanto em todos os cães, sobra!





Jordana Braz

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pombinha branca

Ele nasceu homem mas percebeu que era apenas um menino quando ao lado de uma mulher, fez-se tímido. Ela, que é uma mulher, se vê moça ao lado de um homem e uma menina gorda que de hora em hora, come para nutrir a ansiedade. Ela e Ele, desajeitados porém namorados; até quem não os conhece, sabe que existe uma felicidade que o sorriso e os olhos não escondem. Uma saudade ansiosa de menina gorda brota dentro da mulher quando ela não o vê; tudo assim ia... Tudo assim vai: daqui até o Paraguai, Uruguai, Xangai e até o corpo cansado começar a sentir"Ai!". É namoro novo, possui crises infantis, ciúmes juvenis e um companheirismo tão idoso... Cheira bem! Ela conversa com os cachorros da rua enquanto Ele fuma. Ele brisa olhando a rua e Ela, nua. Não, o caso deles não é físico; é um barato ter alguém só na palavra. Palavras... as mesmas que concordam e discordam; nem na felicidade tudo é um mar de rosas. O mar da felicidade é azul, da cor do mar mesmo, real. Felicidade sem lucidez não é felicidade, é mentira. Ela discorda dele, Ele discorda dela, porém, isso é normal. Eles não são um só e se um dia chegar a ser um, esse um será outra pessoa. Ele pensa em ter filhos. Ela quer cachorros e filhos. Será? É cedo! É lindo! "É o que ele quer", ela diz!

Feliz.



Jordana Braz

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Salto alto

O que passou sobre a ladeira eram apenas pés calçados sob um coração que não imaginava que mais acima, na cabeça, a mente divagava sobre o próprio coração. Não, não era sobre o coração; eram apenas divagações, já que minutos seguintes, assim que os pés calçados pararam, haveria algo, uma surpresa, que até então, possui adjetivo à combinar. Surpresas são surpresas em qualquer parte do planeta e assim como os pés e ladeiras, o folêgo some a cada passo, caso o corpo não esteja preparado para uma subida qualquer... Nunca será cem porcento, por mais que a autoconfiança substime uma característica humana, como a razão ou o medo. A ladeira foi caminho para pés calçados como o meu, com outros pés calçados. Pés calçados serão pés e calçados em qualquer parte do mundo mas talvez, dependa do sapato e há diferença quando se veste o primeiro salto agulha para um outro próximo. O primeiro salto agulha, coitado, é sempre o culpado quando aperta os pés, tombos e seus devidos machucados são resultados do pobre salto que nada mais foi um grande mestre; com o próximo salto o cuidado aparece, tanto na escolha do salto quanto na maneira como deve-se andar com ele. E quando pelas ruas o andar fica belo aos olhos dos homens e inspirador aos das mulheres, a lembrança do primeiro salto vem em forma de saudade sem motivo, daquela que lacrimeja os olhos e faz saltar pela boca baixinho " Ah meu primeiro sapato de salto alto..." e quando salta, não será tombos, vexames e cicatrizes dos vexaminosos tombos que trará a sensação de como foi o dia da compra do salto e da primeira vez que o vestiu; a sensação toma conta do presente no presente mesmo sendo do passado, onde mora para sempre porque Deus quis assim. "O que passou, passou" como diz o já idoso ditado popular. E deixando os sapatos e ladeiras de lado e vestindo os papéis de pessoas na história, sentir saudade sem motivos de alguém que já foi seu é normal. Não há amor, não há tesão em voltar com uma história bem ou mal encerrada, há somente saudade. É confuso como uma boca difere totalmente de outra: uma havia uma saudade quilometricamente apaixonada com outra que tem no cotidiano, uma saudade de metros... São tão diferentes em gostos e presença no tempo, já que uma é passado e a outra é presente, uma está aqui e a outra sabe lá por onde beija agora... Quem sabe! E será que há saudades da boca que nasceu comigo? Sabe-se lá, não importa! Apenas chorei pois percebi que o futuro chegou, tenho um novo salto que ainda laceio com mais cuidado. Não quero ter mais um salto quebrado e quanto ao meu primeiro salto alto, não existe mais, mas se mantém intacto na memória, na saudade.



Jordana Braz

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ao bom rapaz

Bom rapaz, saiba que eu te quero bem, não te odeio como crees; apenas segui com a vida e nela nada restou de você. Pra quem sabe a desventura de abandonar um amor vazio, posso ser considerada uma campeã; meus dias são bonitos sem a lembrança do seu rosto, do seu gosto e dos meus sonhos sem sentidos. Hoje eu sou feliz, bom rapaz, com um outro rapaz! E eu te quero bem por isso; você me ensinou com o descaso de um sentimento mascarado que quando não há mais interesse; ou se mente ou se sente. Eu senti, você mentiu e acredito que os dois tenham aprendido com isso; eu aprendi e hoje eu sou feliz com um outro rapaz de sorriso infinito, bonito! E você, bom rapaz, ainda és bonito aos meus olhos. Minha beleza é ser quem sou, mesmo não sendo a mais bonita das mulheres. Nunca tive vocação para miss verão e isso não me faz mais ou menos mulher. Além de estar feliz com um rapaz, bom rapaz, hoje eu também uso a razão! Eu estou diferente, bom rapaz, muito: meus cabelos estão naturais, minhas gírias são mais legais, meu andar tem ginga, minha pele acetinou, não sou mais quieta e tenho profissão. Pois é, hoje sou mulher! E mesmo mais velha, eu era uma menina tola que fingia ser esperta, de visão européia e de realidade virtual. Hoje sou brasileira de alma, pêlos e musicalidade. Minha praia se faz em minas onde o sol brilha como um girassol da cor de seus cabelos negros ou castanhos, que não me lembro mais. Eu não lhe devo nada mas sou grata pela decepção! Meu novo rapaz agradece também, pois me encontrou já moldada por você!



Jordana Braz

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Boa mulher

Quando o coração ironiza, mulherzinha, tudo fica assim; sem sentido. Este mesmo coração que usava uma razão apoiada no sentimento e que depois de algumas histórias, hoje usa a emoção cravada na razão. É assim, depois de algumas noites não dormidas, coração aflito e uma pose de princesa que não combina com sua realidade, a boa mulher aprende; ninguém a faz chorar. Amar loucamente só se for ela mesma. Ninguém morrerá por amor, ninguém de verdade, óbvio! Mulher de verdade sangra, mulher de verdade não nasce pronta; se arruma com o dia a dia. Aliás, mulheres de verdade existem muitas mas boas mulheres são poucas, seja ela eu ou você.
E quando a razão passa a sonhar mais que o coração, é sinal que já foi ensinado a primeira lição da didática amorosa: o amor é eterno enquanto dura.


Jordana Braz

domingo, 30 de agosto de 2009

Paciência

A que passo anda o tempo, que eu não consigo acompanhar?
Segue horas, corre dias e eu aqui, medindo passos.
Não, percebo que medir passos não é o natural,
cada coisa tem seu tempo, inclusive o tempo.

Se o tempo é o que é hoje, já trilhou por muitos caminhos.
Antes de ser tempo, foi segundo, depois minutos, horas... Dias!
O tempo não nasceu grandioso como mostra-se aos meus olhos.
Eu não posso almejar mais que meus passos imaturos podem alcançar.

O tempo que é o tempo começou aos poucos,
Por que eu vou querer fazer ao contrário?
Paciência é a chave para tudo,
inclusive para ele, o tempo.


Jordana Braz

domingo, 9 de agosto de 2009

Nota para a lua

Não há poesia, não há verso; existe apenas música. Eu o sinto pela audição. Sinto como uma canção em voz feminina com notas de Mpb. Bem brasileiro com nome siciliano. Uma tarantela com passos de samba. Confuso e contraditório. Não sei onde começa meus pensamentos infinitos sobre um reencontro. Não sei ainda como encontrei base para assumir palavras em primeira pessoa. Por que interesse em um ex colega de sala que nunca dividi um recreio junto? Não dividia recreios. Passei a dividir intervalos pelos corredores da escola anos depois e graças à meu nome diferente, fiz-me um cisco em olhos verdes... Ah! E como eles são lindos sob lua cheia... A mesma que ele me mostrou. Não havia percebido a graciosidade da lua, ainda mais quando ela se fez bela na noite do meu aniversário! Seus sinceros olhos verdes foram os primeiros a me mostrar a lua quando cheia.

Jordana Braz

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Customização de Virna

Apenas um cigarro de nicotina mágica, após os 40 minutos do primeiro tempo. Simples assim.Virna encontrou uma companhia, enfim! Latas de cerveja, copos com cerveja, delírios, sorrisos em excesso, olhos mistos e tudo que não fazia a tempos. Vestiu-se mulher novamente, aliás, customizou a mulher que é. Hoje ela quer o hoje; prefere deixar o futuro para quem ela será amanhã. Age para apagar seu fogo, nada mais a impede, sem bloqueios psicológicos e neuras corporais. Faz-se nua para si, quer ser nua para ele, logo. Virna tirou os bolsos onde guardava o tempo, estavam surrados demais. Ela possui uma saudável paciência e sabe seus limites. Entre uma cerveja e outra, ela deseja uma mão boba. Hedonista? Frígida? Não, não... É Virna, aquela que quer um cérebro que funcione, um pênis sob controle e uma sensibilidade máscula; tudo no mesmo homem. Uma companhia eterna enquanto dure. Virna costumizou-se mas não muda de jeito nenhum a fidelidade tão dela. Ela é de um homem só e desde que foi hipnotizada por toda aquela nicotina, só tem olhos para sua fumante companhia. Isso não é paixão, garante ela! É apenas um respeitoso sentimento pelo momento, pela atenção. Cheiro de novo, cheiro que há muito tempo não é mais de Barbie nova. Cheiro de homem novo,de lucky strike... A calorosa Virna hoje está assim; sabe como agir, prefere isso! Pensar demais é um estático estalo para a nova Virna; como o um, dois e três...




Jordana Braz

segunda-feira, 13 de julho de 2009

As linhas da nova cor

Eu não quero mais sair
Não pretendo ver a rua com o mesmo concreto,
Que de certo só possue o cinza, tão cedo.

Tantas vezes quis colorir uma rua que minha não é;
Do verde ao castanho, nenhum azul seria estranho;
Nenhum pecado daria um gosto amargo a minha vida.

Porém, cada passo em descompasso me fere um pouco
E o vermelho sangue sobrepõe um existir só meu,
Tão meu e tão seu - Nosso... nossa!

Desejo apenas que a espera não me fira com a certeza e não me encante pela surpresa.


Jordana Braz

sábado, 11 de julho de 2009

A barba e a saia

Cantaria sua timidez em altas notas
que não sei se algum dia iria alcançar.
Timidez essa que faz um homem barbudo
transformar-se em um garoto típico de 3° série,
de face lisa, sentado em uma fileira de escola
estilo anos 90.

E que ao torna-se homem aos meus olhos
-novamente, sutilmente e de repente-
abandona as doces e bárbaras lembranças estudantis
que me fazia menina sem gosto e sem saia
Para rapazes barbudos porém singulares que não me rodiavam
-e que hoje me rodeiam.

Mas caso sua timidez vire uma Insensatez*,
ficarei apenas com um gostar no futuro do pretérito
e um pensar no pretérito imperfeito!Mas acaso, apenas...

Viver intensamente o hoje para ganhar a eternidade;
outros barbudos e outras mulheres de saia já viveram
e já possuem a história, suas histórias e a eternidade.


* "Insensatez " de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.


Jordana Braz

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A sós

Decidi que não irei chorar por mais nada,
mesmo minha dor ou a de outro.
Cansei de toda a bondade pura sem espera da troca,
pois calejados estão meus dias, meus pés e minhas mãos
por andarem pelas mesmas ruas sem asfalto com pedras nas mãos
nos dias carentes de um relógio no pulso.

Do amor que conheço, não há exemplar.
De amor que vivi, não quero mais:
Cansei de toda a lorota que engana à primeira vista.

E como eu quero? O que quero?
Mesmo sentimento que pergunta, responde.
O mesmo sentimento bom de memoria,
que aprendeu sonhar somente com aquilo que pode ter,
nada mais.



Jordana Braz

domingo, 21 de junho de 2009

Os cromossomos XX

Os seios assustam
Aqueles que percebem o além deles:
Um coração e uma cabeça que pensa, questiona
E sabe que há uma incoerência no y, O cromossomo.

Os seios pequenos assustam, o grandes são desproporcionais
E para os mais caídos sobra sabedoria.
Coitados dos seios juvenis que amadureceram antes do tempo,
Vivem como peixes fora d'água,
Um ponto discreto vestindo a famosa roupa do Rei.

Coragem, quem sabe um dia apareça
E olhe os seios com desejo e note o além com tesão,
Sem culpa, sem inibição e sem hora.
Para os dedos tocarem na pele precisam antes
Ter a inteligência como as verdadeiras pílulas azuis.


Jordana Braz

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Estrela cadente

A pessoa mais bonita do mundo...
Ela jamais pensará que na sua simplicidade há beleza:
Nasceu com ela, desde os fios de cabelo,
Nas veias descendo o corpo até os pés.
É no brilho dos olhos, é no toque da mão, respiração...
Queria eu ser tão bela assim...

Vê nos tijolos quebrados sua casa,
Sem constrangimento nem nada;
Não esconde os oito irmãos, não renega sua mãe
E demonstra respeito ao pai caído bêbado no chão.
Quem tem família, tem tudo.

A pessoa mais bonita do mundo acorda
E não escova os dentes.
Pensa primeiro: "O que será de nós hoje?"
O 'mim' não conjuga verbo nem na vida
Sofrida, sofrida e bonita como ela.
Quem dera eu conjugar a vida tão bem assim...

De brejeira à favelada;
Talvez seja ela aquela com o cabelo maltratado,
Encardida, mal vestida, encolhida... Linda!
A pessoa mais bonita que já vi não nasceu para as passarelas,
Nasceu simples dentro do coletivo pobre
E pobres daqueles que não se dão a chance de observar
O brilho de seus olhos:
O sutil brilho professor desses olhos que já viu de tudo um pouco
E que ainda brilha como se fosse uma chuva de estrelas cadentes.


Jordana Braz

domingo, 31 de maio de 2009

O bolo

Eu quero toda a felicidade do mundo,
Sim, sei que ela pertence ao mundo
Mas eu a quero... E a maior fatia dela.

Quero a beleza de um sonho bom,
Ainda mais se o sonho for apenas uma hipérbole
De um dia simples e feliz, com cheiro doce de bolo.

Quero o amor, o sorriso, o abraço
E o carinho que meu coração deserto merece:
Ver novas marcas de pés sobre as dunas de areia.

Quero ler, escrever e sentir
Manter minhas emoções dentro das letras
E a minha razão sem nenhum peso na consciência...


Jordana Braz

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Bondinho

O meio de transporte que mais uso é o bondinho,
Um bonde em especial.
Sabe, ele é lento, fica sobre uns trilhos
Mas me leva para onde eu quero chegar,
Existente...

E quando cisma, me leva para o inexistente
Para aquele lugar que eu ainda não sei,
Atropela o tempo e faz chegar uns trinta anos à frente,
Cinquenta quem sabe...
Fazendo-me andar em ruas sem usar os pés sobre o chão.

E em tantas idas e vindas sobre o trilho,
O bonde cansa e busca sossego na marcha ré:
Volta o tempo sem freio,
Passando pelo passado que viveu e pelos quais gostaria ter vivido,
Influencia das tradicionais aulas de história do colégio...

Quantas formas tem a mente?
Provavelmente inúmeras,
A que uso é um bonde, o bom e velho bonde,
Mas não importa se ela tem a forma de um mini bug ou patinete,
O que vale mesmo é para onde ela leva.

Jordana Braz

sábado, 16 de maio de 2009

A pior pessoa do mundo

Talvez eu seja a pior pessoa do mundo
De um mundo feito de piores e piores.
Talvez eu seja egoísta com toda a certeza
E certa que esse seja meu principal veneno,
Letal.

E como a pior pessoa do mundo
Considero-me minha melhor amiga...
Cúmplice de um ser humano que chamo de eu.
A única que caso eu perca, terá olhos sem lágrimas de crocodilo.

As mesmas vozes me irritam...
Mesmas pessoas com as mesmas vidas que conheço.
Conheço, convivo mas não sinto.
A compaixão da pior pessoa do mundo tem limite.
E o amor dela, incrível que pareça, é incondicional.
Por mais que ás vezes gostaria de ser o único habitante da terra.

Os piores dos piores são os egoístas e eu me incluo neles.
Podem ser frios, arrogantes e de difícil convívio
Mas acreditem, são os mais sinceros do mundo.
Os bons samaritanos podem ter um lugar já guardado no céu
Mas enquanto o céu está distante, prefiro meu lugar reservado na vida.



Jordana Braz

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mundo bolha

Se tudo fosse perfeito... Ora! Não seria verdade.
Não teria vida, não teria verdade.
Nenhum humano chegaria aos 20 anos
Se o mundo fosse totalmente colorido.

Falta algo,
Sobra conhecimento
E a necessidade fez o mundão véio de guerra
Que todos conhecem até então.
Desequilibre pois é assim que se chega em algum lugar.

Não adianta, não cabe a felicidade no mundo inteiro.
Uns tem que sorrir, outros precisam chorar
E se hoje não é você, a sua hora vai chegar.
Nada é perfeito e se algo cheira a perfeição
Pare e repense: algo está sem razão.

A verdade nem sempre é bonita
Mas é só com ela que se aprende.
O meu mundo bolha é tão quentinho
Mas ás vezes sentir o vento frio do mundo afora
Aquece muito mais a vontade de ter a vida por inteira,
Desde o soluço de um riso até aquela dor sem nome.


Jordana Braz

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Amores de all star

Um ombro dolorido por carregar uma bolsa grande com livros, máquina fotográfica e tudo que possa caber. As pernas da morena estavam friorentas por causa da saia e os pés doloridos pela mania de usar all star sem meia. Já era noite, ela desceu as escadarias do metrô desviando das pessoas que subia na contramão e em uma curva de parede e outra havia um rapaz encostado, à espera de alguém. Seria apenas mais um rapaz se não fosse a maldita semelhança com um ex: a maneira como ele olhava o celular, o jeito como o óculos pairava sobre o nariz, a calça jeans... seria ele se houvesse tatuagem no antebraço, mas não tinha tatuagem, não era o ex... Graças a Deus pois seu coração subiu pela boca e uma sensação ruim subiu lhe o corpo e depois sumiu, prosseguindo a caminhada até a catraca. Passa o bilhete único, desce mais uma escada agora rolante e pronto, o próximo metrô estava à caminho. Ela poderia chegar em casa tranquila, sem novidade se não fosse agora um rapaz bonito, de orelhas alargadas e barba." Ú que coisa linda!"E mais linda ainda é a maneira em que ele a notou, com os cantinhos dos olhos castanhos. Nada é tão prazeroso quanto ser notada por alguém que nos encanta, mesmo que seja nestes breves amores de metrô. Felizes, eles desceram na mesma estação, caminharam em passos quase sincronizados e ficaram esperando outro metrô... esta vida de paulista é uma viagem só. Mas como diz o ditado, alegria de pobre dura pouco, uma menina esguia usando um all star com meia ficou ao lado da garota da bolsa enorme. Ela ficou no meio do rapaz das orelhas alargadas e a menina esguia, com o coração partido no meio do fogo cruzado de olhares. O breve romance havia desfeito. Ela estava no topo de um triângulo amoroso. Teria o rapaz dos alargadores uma queda por garotas de all star? Ninguém sabe. Pobre garota; o ombro voltou a doer, os pés voltaram a incomodar... tudo que ela havia esquecido por minutos, voltou com força maior. Isso até o outro metrô chegar com uma nova surpresa: um outro rapaz. Ela devia estar muito bonita neste dia, pois é raro ela ser notada duas vezes no mesmo dia ou ela mesma perceber que alguém a nota. Um novo romance começa com o rapaz que ela apelidou de " cara com cara de pinguim". Ela ria por dentro achando graça no rapaz alto, com barba e nariz fino. Beleza ela via nele. Ele também via beleza na morena. E eles ficaram alí, um olhando para o outro, causando ciúmes, quem diria, no moço de alargador que sem mais sem menos, voltou a observar a morena do all star sem meia. Agora era ele que ficava em meio ao fogo cruzado de olhares. A menina esguia havia atendido o celular com um " Oi amor, tô chegando", desiludindo o rapaz. Logo, o cara de pinguim desceu na estação Sé... a morena de all star sem meia voltou a olhar o rapaz de alargador que já havia cansado de brincar platônicamente e em seguida desceu na estação São Bento. A morena de bolsa grande e all star sem meia, sem amor nenhum agora, termina a longa viagem descendo na estação Luz. Pois bem, sempre há uma luz no fim do túnel...


Jordana Braz

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aquele vestido

Os dias são como vestidos, uns gostamos demais
Outros usamos uma vez e só.
Um vestido bonito combina com um calçado bonito,
Com um cabelo penteado, vento ao caminhar,
Saia ao vento, vento no rosto... os olhos fecham-se involuntariamente.
Detalhes descritos.

Feliz seria se todos vestissem vestidos bonitos,
Bonitos para si mesmo, confortavéis.
Quando estamos bem, o mundo nos vê bem.
A visão da vida é a visão que temos de nós mesmos,
Um guarda-roupa grandioso repleto de vestimentas
Á espera de pessoas conscientes do que vestir.


Jordana Braz

segunda-feira, 23 de março de 2009

Crise existencial do caminho

Não possuo vida embora viva em uma estrada. Não tenho tempo mesmo que com o passar do tempo, me descasque. Não tenho família, amigos, ninguém que me valorize. Tenho apenas iguais e alguns que me seguem, precisam de mim ás vezes, assim existo por um instante: provendo sempre mais um pouco de vida sem querer... Sem querer, eu penso. Pensar... humano demais isso... Eu trago escritas comigo que provem um pouco mais de vida. Minhas tatuagens... Outras iguais como eu trazem desenhos de homens em negrito, setas, etc. Não sei se elas gostam de ser assim, como eu. Eu não gosto, não gosto de ser quem sou. Nasci de ferro mas não sei quando, não sei quando inventaram meu ancestral e nem o dito cujo que seria o criador, mas enfim, isso é minúsculo, nem é tão ruim assim... O pior de tudo é que sobre mim e meus iguais são depositadas responsabilidades como indicar o caminho á quem passa sem saber, tutorar. É complicado essa coisa de tutor, se algo dá errado, a culpa é do tutor. Ainda mais um tutor que não tem vida... Eu faço meu melhor sempre. Fico aqui parada, haja sol, haja chuva, trovoada... Passam os carros acelerados, os mesmos carros com as mesmas pessoas, não sei... Espero que assim seja. Sinalizaria que exerço bem meu trabalho além de demonstrar que os motoristas são cautelosos. Não é agradável olhar um carro passando e imaginar que ele pode nunca mais fazer este trajeto, seja pelo bem, seja pelo mal. Sabe, quando se referem a mim, usam um artigo feminino... Deve ser por isso que além das letras, trago isso de tutor... Tutora. Coisa de mãe. Carinho. A pouco disse que não gostava de ser quem sou, corrijo isso agora. É bom servir como guia, indicar o melhor caminho, a melhor maneira de fazer o caminho... Gratificante, sabe? É... gratificante, essa palavra é a ideal. Fico grata quando me olham, quando sou vista atentamente... Fico mais grata ainda quando fazem direitinho o que indico, como uma mãe grata por ter sido obedecida pelos filhos. Filhos humanos de uma mãe placa... Quanta blasfêmia, mas me vejo assim, como mãe. Uma placa não é apenas uma placa. Eu não sou desprovida de valor. Sou feita de ferro, trago escrito informações importantes para os motoritas que passam rumo não sei onde... Pois bem, eu não tenho uma vida propriamente dita mas colaboro com esse mundo, com esses humanos. Mantenho uma vida que não tenho, indico caminhos que não farei, vejo todos sem poder retribuir com os olhos, mas tenho sim vida. Uma vida de placa que vive em uma estrada. Minha estrada, minha casa... Ah, se eu escolhesse uma frase para ser escrita no lugar das já existentes, seria a frase "Um bom filho à casa torna"... Deve ser isso que as mães humanas trazem no coração.


Jordana Braz

quinta-feira, 12 de março de 2009

Coração em um quarto

Noite, calorosa noite. Enquanto muitos dormiam cobertos por lençóis lavados, sozinhos ou acompanhados, Joana pintava as paredes. Ela poderia pinta-las á tarde, durante o tempo entre a pestana do almoço e o café da tarde mas não, era á noite que a solidão apertava. Paredes de um quarto, seu quarto. Quantos sonhos já ficaram limitados entre aquelas paredes na mente em sono de Joana, quantas orações a Deus, quantos devaneios, surtos e Tpm perdidos naquele espaço… um pequeno mundo. Um quarto e lembranças de amores perdidos. Era essa a causa da solidão e da pintura noturna da moça em seus 20 e poucos anos.
Joana não tivera muitos romances mas estes não muitos foram realmente amados por ela. Talvez somente por ela. Amava pelos dois. Um desequilíbrio visto por todos menos por ela, que só costumava a ver esse descompasso meses após a última lágrima do rompimento que até então não foram decididos por ela.
- Minha filha, isso passa… - dizia Dulce, mãe de Joana.
- Moça carente… - diziam os rapazes da vizinhança.
- Mulher chiclete demais, vixe Maria! - diziam seus ex-homens em coro.
- Um dia você muda, Joana! - pensava Joana sobre si mesma.
Pensava… um dos seus hobbies favoritos era esse, além de se contemplar ao espelho, cozinhar e pensar. Joana perdia-se em meio a tantos pensamentos. Um a ligava com a existência ou não de um átomo e outro com respostas que ela deveria ter dado á fulanos na infância. Se átomos existem ou se aquelas respostas de criança seriam corretas, tanto faz. O que incucava mesmo a jovem era o por quê seus romances terminaram. O que teria feito ela para que tudo que era lindo, perdesse a graça... E quando um desses por quês apareciam nos pensamentos, a punha em conflito com sua estima. Joana era uma jovem bonita, não era o padrão, dificilmente estamparia uma revista de fitness ou um catálogo de biquínis, mas era bonita sim. Dentuça, tornava seu sorriso gigantesco. Um sorriso iluminado que constrastava em harmonia com sua pele mestiça de cor firme. Magra mas com barriga, Joana gostava de usar vestidos, lindos e floridos.
E o pincel movia-se sobre as paredes. Tinta verde escorre sobre ela. Uma parede que já foi amarela, roxa e massa fina. Tijolo e cimento. O pincel alternava com um rolo com lã de carneiro. Pobre bichinho… E o sono aperta, bocejos a cada 5 minutos expressam o cansaço. Quem pintaria o quarto no decorrer da madrugada? Só Joana. Ela tem pressa. Não quer mais ver a parede amarela, assim como na época em que trocou o roxo pelo amarelo. Confusa. Aquelas paredes sabiam demais, as cores nelas traziam cheiros. A sinestesia trazia para Joana todos os momentos e o rosto que ela queria esquecer. Precisava esquecer.
E esquecerá... assim como já se põe o dia pela janela do quarto, o coração de Joana se faz madrugada.

Jordana Braz

sábado, 7 de março de 2009

Pequena, poucos e simples

Conheço romance pelos livros,
Vivo os amores de música, sinto mãos dadas nas pinturas
Apenas assim... minhas mãos são sempre vazias.
Os olhares voltados à mim vejo de momento
E se vão com a mudança de cor do farol.
Meu rosto marca que espero um amor amado...
Certeza.

Amor de alma, aquele que nunca muda.
Nem para ódio, nem para compaixão.
Pleno e amigo... tão simples, tão paciente
E tão sincero que me magoaria pela verdade
E nunca por uma mentira.

Eu só sei amar assim,
Um amor confiado... Que se ganha com o tempo.
Não um simples encantamento, não existe amor á primeira vista.
Amor assim é fingido... Amor de um vasto coração leviano.

Sou de pequena, poucos e simples:
Pequena família, poucos amigos e da simplicidade de um homem
Que ainda não conheci.

"E para os dias de amores confiados em vão, só a desventura da ilusão;
Que passa com os segundos das horas e que evapora com o fervor do otimismo."

Meu coração me disse isso.


Jordana Braz

domingo, 1 de março de 2009

Torre

Chega, nunca foi amor.
Nunca foi verdadeiro, nunca fez bem... Ainda não passou.
Justo quando sua vida está certinha, volta e abre aquela chaga... Chega.
Nenhum coração suporta se enganar tantas vezes.
Nenhum olho se enobrece chorando.
Desculpas: era isso que deveria ser dito
E um adeus em até breve em seguida.
Quando se perde a confiança no ser, pano quente não cobre.
Não dá para rir o riso justo de velhos amigos...
Somos o que deixamos nas pessoas
E no meio do peito não há uma pedra e sim um espelho
Limpo e sem marcas de dedos...


Jordana Braz

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Prefácio humano

Eu era mais feliz quando não questionava,
Quando me valia um riso chulo sobre uma vida qualquer.
Eu penso... como dói.
Dói... aquela dor sem marca, vazia dor.

Por mais que eu abstraia o mundo alheio,
O meu próprio mundo não me abstrai.
Me bota triste e indefesa em meio a tanta incerteza.
Certezas que sinto mas prefiro vê-las como acaso...

Nisso tudo, só tenho a certeza que Deus existe.
Um Deus não agnóstico... uma força não física, sublime.
E uma fé que não se fez na igreja nem na bíblia...
Minha fé.

Sou mais uma poeira no cosmo que brinca de existir.
Respira um ar filtrado, Inspira pena para si mesmo.
Poeira que morre para um planeta
Quando nasce para o universo.


Jordana Braz

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fama

Não há mais medo que me amedronte,
A vida engraçada me mostra em dias
Que quanto mais medo se tem,
Mais rápido o medo acontece.

E se me pego pensando, o corpo em inércia, move.
Quantas pessoas entram na minha mente
Sem eu saber, sem elas saberem...
Mas ao pensar no mundo, ele não pensa, o mundo não para
E eu aqui penso... vejo a vida passar em gerúndio.

Que triste fim terá aquela que pensa?
Mais um Policarpo Quaresma no Brasil com "s" ...
Pois bem, eu não sei... pensar nisto agora não!
O homem faz a sua fama e a minha eu prefiro não pensar.

Jordana Braz

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Saia indiana

Eu a vejo o dia todo
E pensava nela diariamente no passado.
Ela lê livros que não a prende,
Os olhos voam sobre as letras sem síntese
Enquanto coça a cabeça de cabelos curtos.

Ela lê e escreve, coisas que não aprendera no prézinho.
Teve a mãe como a primeira professora, além de mãe.
Costuma sorrir para o espelho, vestir saia indiana
E sempre vê beleza nas flores que não recebe...
Moças que recebem flores são aquelas dos sonhos de homens frouxos.

E usando uma onomatopeia qualquer,
Como uhmmm... pensa que isto tudo escrito
Não seja uma auto definição
Mas por mais que não, talvez a defini.


Jordana Braz

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Hora certa

Quando falarem em hora certa,
Acredite, ela existe!
O não de hoje não te faz menor,
Não te assina como incapaz.
Apenas não foi...
Não é a hora certa.

Tudo conspira a favor...
Por mais que os planos e certezas não se concretizem.
Seu Deus, o cosmo e todas as energias que você acredita ou não,
Sabem o que será melhor pra você
E acredite, a hora certa existe.
Assim, simples.

Jordana Braz

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Prisma

Hey garota, levanta!
Levanta... já permaneceu por demais dormindo.
Parada, respirando baixinho, faltando estímulo.
Acorda...
Há uma vista linda lá fora.
Seu futuro, uma vida... a parte da sua vida
Que você ainda não viveu.

Versos...
Deixa eles em papel, não os soltem por aí.
Use branco, vermelho, verde e lilás.
Ouse, cante... sinta aquilo que não tem toque.
Prove...
Todos os gostos possíveis. Todos os amores relâmpagos.
Tudo que lhe parecer impossível.
Prisma, minha prisma.

Jordana Braz

sábado, 24 de janeiro de 2009

Véu e grinalda

Não me faça perguntas sobre amor,
Não sei, um dia eu o senti... um dia errado, talvez.
Fiz do meu próprio coração picadeiro
E de toda a dor que senti, arte:
Poesia, uma escrita triste.

Um dia errado que me fez infeliz
E que me assombra ainda em forma de sonho,
Entre um e outro, pesadelo.
Eu só peço pra viver em paz, de coração.

Já vesti de noiva a beleza em se apaixonar
E vendo o que acontece com alianças,
Eu não quero vestir véu e grinalda,
Nem hoje nem nunca... talvez.

Jordana Braz

domingo, 18 de janeiro de 2009

Poema da vida

Para uma porta que se abre,
Eu não sei para que quarto ela tranca.
Engraçado... eu mesma a abri...
Quantos rumos eu terei?
Quantas casas eu me escondi?
Não sei e não vi...

Olhar nos olhos é costume novo,
Pois o medo que me cegava e que de tão pesado, me curvava,
Foi se embora com a juventude que corre e não pára...
É a mesma juventude que serve de porto seguro para as falhas.
É a mesma que me guarda imaculada.

Isso é um desafio chamado crescimento:
O que era exato, teve que ser refeito
E o refeito nunca é estável...
E eu o farei quanto for necessário
Pois para mim, isso é viver.

Jordana Braz

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O tempo de Maria Júlia

(Ode à Maria Júlia)

Minha vó não teve orkut,
Não teve comadres virtuais,
Não foi beneficiada pelo photoshop
E muito menos conheceu meu avô em jogos de comunidades
Ou em sala de bate-papo.

Minha vó casou-se cedo
E seguiu à risca o até a morte nos separe.
Fortes foram os amores daquele tempo
Onde nos olhos viam-se as remelas,
Não só os cílios, como os amores de agora.

Ora... do que me adianta pensar nisso?
Houveram avós e avós como há netas e netas
E destas sou a neta que não sabe orar
Enquanto minha vó batizava os filhos com nomes santos.
Pois é, o tempo passa em mero descompasso...


*Para Maria Júlia Vilela, minha avó materna.

Jordana Braz

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

18 anos

Quem eu quero ser...
Talvez não seja eu,
Talvez seja a minha mãe...
Não sei.

Quem eu quero ser...
Não chora por um não,
Acha digno sovar um pão
E dança como se não houvesse ninguém olhando.

Quem eu quero ser...
Pode ser aquele que eu só vejo na Tv.
Pode ser, não sei...
Só sei que isso não é dúvida apenas de 18 anos.

Jordana Braz