domingo, 31 de agosto de 2008

Fiz

O que se faz quando tudo já foi feito?
Pretensiosa fui, pois do tudo, eu de tudo fiz.
E da pretensão sobrou apenas um vazio gelado no peito
Que congela de uma maneira que jamais quis.

Chorar pelo que derrama,
Seja por ele ou pelo leite derramado na grama
É prática útil apenas no ditado...
Já que o impossível fica fácil quando falado.

Amei, sofri, chorei;
Parti, cortei, feri;
Sonhei, escrevi, pensei
E hoje sei que minha parte inteira, cedi.

Jordana Braz

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Pandora

Seja para a moça que chora
E para sua ex-professora de nome Aurora;
Seja para a cozinheira mexendo seu doce de amora
Ou para menina que sem a bóia, se afoga.

Seja para a Roberta que fica com quem namora
Ou para Lulu com sua caixa de pandora*;
Sejam para elas e para a Jordana:
A arte de ser mulher é a arte mais insana.


Jordana Braz

*Lulu é a personagem interpretada por Louise Brooks em " A caixa de Pandora" (Die Büchse der Pandora ,1929) direção: Georg Wilhelm Pabst.

domingo, 24 de agosto de 2008

Brado

O que houve com a batalha?
Não há mais exército em campo,
Armas recudadas e colocadas ao canto
Sobrando apenas rastros de pólvora e pranto.

Quanto engano foi seguido.
Quantos sonhos foram cortados sobre o limo
Mas limpos com a farsa da honra e do mérito,
Créditos financiados pelo sangue.

Sorte apenas a estendida na flâmula
Rasgos dados de presente aos pais
E um exército inteiro desfeito
Mesmo feito de um homem só.

Jordana Braz

sábado, 23 de agosto de 2008

Minguante

Como fere a tentativa
de entrar e não caber.
Quebra os ossos, esmaga os orgãos
e sangra até morrer.
Se faz sempre pelo sonho do querer mas não ser.

Chora! pois tudo tem forma,
As coisas seguem normas
Que discriminam os de fora.
É apenas o sistema que inibe os problemas.

O querer nunca foi o bastante
Para o tempo, a vida é um instante
E minguante feito a lua.
Crua e nua que machuca os sonhadores.

No conformismo há fraqueza
Intensa mas invísivel nos calouros
Os recém chegados ao clube
Clube este dos derrotados e insanos.

Jordana Braz

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Timidez

Cá está: um rosto corado.
Resultado corado de algo falado.
Um rosto de frente ao inesperado,
Parado enquanto o pensar voa, alado.

Tanta timidez, assanha.
Um elogio sincero acanha.
Apanha o ego desprevenido
E perdido num espelho refletido.

Com timbre baixo se faz timidez.
Por medo de erro, talvez.
Pois timbres altos têm seus ouvintes
E a timidez tem no orgulho seu único ouvido, ouvinte.

Jordana Braz

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Verso da saudade

Da certeza: incerteza,
No sentir há sim
Uma tristeza acesa
De leveza semelhante a cetim.

Tristeza essa - saudade.
Serenidade emana na espera.
Quem dera esta se perder na esfera,
Um planeta em órbita na Infinidade.

Saudade não tem forma
E nenhuma cor que orna.
É o vazio repentino
Que o Tempo faz de hino.

Jordana Braz

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Conselho de Grilo

Na boca, a fala diz
O olho entrega, não condiz.
E cega!
Cortando o mal pelo nariz.

Não há quem minta
E pinta e borda, com minha tinta
E minha corda.
Nem come e corta a minha torta.

Se a mentira é prima rica,
A anedota te anota.
Perde o riso e pede o risco.
E risco mesmo quem à adota.

Da verdade, eu quero tudo.
Nunca fico sobre o muro.
Nulos são os sabem-tudo
E quem vive o falso mundo.

Eu não finjo, eu não minto.
Só omito o que não sinto.
Testo mesmo ao relento
Para ver o seu talento.

Pois quem mente, mentiroso!
Nunca teve o nome honroso.
Esculacho o seu trabalho
Só pra te quebrar o galho.

Sinceramente e sem repente:
Mentira, quem ouve, sente!
Quem mente não entende.
E isso, não há ninguém que argumente.

Jordana Braz

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A sinopse de Praga.

Praga era um peixe.
Um peixe com alma de gato
Ou um gato fantasiado de peixe.
Um peixe pequeno e dourado
Com fobia de aquário.

Sendo Praga, O peixe Praga
Fez seu nome á surdina.
Foi muito regrado em seu ofício,
Nadava com louvor mas de maneira metódica
E não observava o fundo do mar como deveria,
Pois foi gato na alma e formiga por opção.

Peixe único de princípios,
Fascinou intensamente uma sereia,
Só que noutro oceano...
Tentou ser racional por vezes, mas,
Se peixe de nascimento, pisciano é!
Além de gato d'alma e formiga por opção,
Foi astrólogo por conveniência.

Praga com sua alma de gato,
Só não teve as sete vidas.
Zelou tanto por seu ofício, feito formiga,
Que não soube contar como era o fundo do mar.
E sendo racional demais,
Preferiu calar o coração, feito ser humano.

Jordana braz

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Festival do Cinza.

Quero vestir o vestido mais bonito,
O mais bonito dentre os que possuo.
Para ir ao festival no qual sempre vou.
Sempre comigo mesma.

Para o meu vestido mais bonito
Resta o meu dia mais feliz.
Onde caminho a passos largos,
Escutando pensamentos altos e tristes
Em bocas pobres ou ricas.
Misturadas em meio a cidade cinza.

Meu vestido mais bonito, perdoe a consciência,
Como posso te dedicar meu dia mais feliz?
Sendo apenas você um pedaço de pano...
Ora, quanto engano tem na vida!
Quanta dor tem ao lado!
E eu só penso no meu vestido de babado...

Sendo a cidade cinza tão bonita
Nos seus vários tons de cinza:
Concreto, nublado e nicotina.
E um mar de pessoas perdidas em si.
Perdidas e cinzas, como seus concretos.

E eu só penso no vestido!
Eu só vejo meu umbigo...
Caminhando rumo ao festival.
Mas a beleza triste e cinza contagia,
Elevando toda a tensão
Até vomitar melancolia.
Penso alto e viro cinza...
Mesmo vestindo o vestido mais bonito no dia do festival.

Jordana Braz

domingo, 10 de agosto de 2008

A moça de pés bonitos.

Para a moça de pés bonitos
E seus 22 anos:
O que será?
Não sabe se declara
Já não sabe se vai dar.

Para a moça de pés bonitos
E suas tatuagens:
Quem a tatuou foi seu primeiro homem
O mesmo por quem
Ela cisma em amar.

Para a moça de pés bonitos
E o seu destino:
Tranca sempre a faculdade
Que sua mãe cansa a pagar
E seus amigos das antigas
Sempre ficam a caçoar.

A moça de pés bonitos...
Descobriu suas virtudes dormindo
E aos seus defeitos morrendo.
Já não dança como antes
Antes mesmo de dançar.
Já não vê as mesmas cores
Cores essas à pintar.
Já não quer o mesmo luxo
Luxo esse que não vive.

Ah, pés bonitos!
Sua moça é tão confusa.
Uma moça tão morena.
Que não bebia cerveja.
E preferia te manter lá nas nuvens
Á sentir a solidez da terra.

Já não tem os mesmos sonhos
Já não quer a mesma regra.
Suas cismas viram rimas
Rimas estas como esta.

Jordana Braz

sábado, 9 de agosto de 2008

Punho fechado.

De punho fechado
A proteção fica extrema
Por medo da perda.
E quem ama, cuida.

Quando o punho perde a força,
A proteção afrouxa.
Perder é consequência
E a quem se ama, sente.

De punho fechado
Para mão aberta.
Quem protegia, abandona.
O protegido, apenas chora.
Ainda na palma da mão.

Em meio às linhas da vida e digitais,
Se segura por vontade própria.
E mesmo que o diabo atente,
Não pula pelos vãos dos dedos.

Prefere estar naquelas mãos.
Prefere ficar à espera do mesmo punho.
E enquanto isso não chega
E por mais que isso demore, continua ali.

Jordana Braz

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Braz e suas mulheres.

As mulheres de Braz não foram muitas.
Dá para conta-las nos dedos
Sem somar o polegar.
Já que foram apenas
Ana, Tereza, Cristina e Martinha.

E os homens das mulheres de Braz?
Sim, Braz não foi o homem ideal.
Foi um acaso.
A exceção de toda regra
Com nome e sobrenome.
Braz Raul.

Ana gostava de negros
E Braz nasceu loiro.
Tereza preferia os altos
E Braz não cresceu muito.
Cristina queria ir à China
E Braz preferia ficar na padaria.
E a Martinha?
Ela adorava a mesma padaria
Mas Braz tinha fome demais para ela...

Virna, sua irmã, dizia:
-" Braz, velho de guerra!
Feio és tu para tuas mulheres
E além de feio, é guloso, anão e sedentário!"

Braz nunca se preocupou com isso.

Ele não foi feito de ideais
Não entendia de padrões
Escolheu suas mulheres
Pelo modo de elas serem:
Ana assumia ter medo da morte.
Tereza sonhava acordada.
Cristina tinha fé.
Martinha não via Tv.
E Braz foi apenas ele mesmo.


Jordana Braz

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O laço.

Te fiz num laço
Onde a cada nó feito
Votos sinceros foram despejados
E deles o mínimo esperado era amizade.

Te fiz com a fita mais bonita,
Na sua cor preferida
E ao olhar pra você, meu laço
Despejei erroniamente todo o meu ser.
Literalmente...

E que ironia: O laço desfez!
Justo em um aniversário.
Meu aniversário...

Ó meu laço!
E eu que havia pensado que você seria resistente...
Já que o fiz com maestria,
Maestria essa que desconhecia em mim.
Uma maestria falha.
Já que meu laço se desfez na minha mão...

E essa mão, meu caro laço?
Te preservei tanto
Que não percebi quando formou
O primeiro calo.
O primeiro de muitos calos que hoje,
Estão nas duas mãos.

As mesmas que um dia foram lindas.
As mesmas que ficavam frias na partida.
E quentes ao seu toque no cinema.
E que hoje sinaliza que o fim,
Para elas, chegaram.

Cansaram de esperar.
Cansaram de escrever.
Cansaram de mostrar.
Cansaram de buscar algo em vão.

Então, para o meu laço fica esta escrita.
Uma recordação daquelas mãos
E mesmo que seja indiferente escrever
Mesmo que pela última vez, saiba:
Você foi meu laço mais amado.
Talvez o maior amor da minha vida.
E como quanto maior a altura, maior a queda...
Ao se desfazer, você foi a minha maior tristeza.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Barbante à mexerica

Para sua cortina de crochê, além das agulhas
Houveram barbantes.
Pois bem, fique sabendo!
E a cada gomo de mexerica, há sementes
Duas ou quatro, não lembro ao certo.
Pois sempre as cuspimos.

E dos barbantes e sementes
De cortina à mexerica
Eu e minhas idéias fixas.
Minha cisma pela cisma.
A cisma pela unidade.
A diferença que cada um tem...
O barbante que cada ser é!
A semente cuspida de cada mexerica.
O individualismo deturpado:
Ego
Credo
Nome
Endereço
Mãe
CPF
Digitais e sua impressões
Não são isso caros indivíduos, não são!
Isso nos fazem pessoas.

Eu cismo com a unidade.
É isso que cismo.
Pela unidade
Unidade do ser
Aquela que grita
Opina a sua maneira.
Talvez primitiva ou adquirida sem medo.
Que diferencia individualismo do individualismo
Talvez social, moral e econômico.
Livre-arbítrio e o tato inato
Daquilo que te faz gostar ou não deste texto.