quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ana Rosa

Hoje ri de um passado tão paulista que uma garota de interior gostaria ter, ri de mim mesma e de toda ilusão que tive. Não combina mais comigo toda aquela gente que fala sozinha, de terno e gravata ou pessoas tão européias mas de origem tropical, que negam o cabelo e a cultura brasileira. Eu apenas estava sentada no ônibus sentido Ana Rosa-Barra funda e me deparei na paulista, com tantos prédios e com tantas pessoas na calçada, bicicleta e carros e com única felicidade anunciada nos homens com pés sujos, dreads e barba. Não eram nenhum estudantes de biologia ou de humanas de universidade pública. Os homens de pés sujos até poderiam ter sido um destes, mas algo chamado sistema não quis, pois para Deus eles são tão iguais a mim. Deitados nos plásticos, fumando algo e vendo a vida passar, pelas pernas de executivos e pelo céu alternado claro/escuro todos os dias. Ninguém percebe que pra ser feliz basta viver? Deitar na rua, sem ter casa pra manter, família pra pensar e uma identidade para construir, os únicos que sabem viver nas grandes cidades são aqueles que fechamos os vidros e deixamos de lado nas nossas orações, além de ser o castigo por não estudar. Incrível, ri de mim mesma que não possuo um critério de felicidade comum, analiso aqueles que vejo mas não pontuo o lado bom de se eu mesma. E se perguntarem para mim quem é feliz, direi que é aquele que menos tem concreto e mais tem liberdade, simples. Respirar e distinguir os cheiros são as únicas condições humanas.




Jordana Braz