domingo, 14 de agosto de 2011

Arte é três pontos

Enquanto todos querem ser artistas, eu só quero ser normal. Escrevo apenas por escrever, é tanta coisa dentro de mim desorganizada que só escrevendo para começar a ter alguma forma. Citei forma como sinônimo de sentido pois a forma em si é o que menos me preocupa. Hipócritas são aqueles que começam um curso de humanas, em especial letras, e já carregam no peito um brazão " discípulo de Manuel Bandeira" ou " Novo Leminski ou Lispector". Engraçado que isso se aplica para uma parte da sociedade que acha que referência e reprodução são as mesmas coisas. Ignorante eu fui quando pensava que seguir aqueles que admiro seria um ato de falta de personalidade pois seria como me esconder atrás dos grandes feitos dos outros. Na verdade, hoje sei que para se obter alguma luz criativa, é necessário conhecer inúmeras boas fontes e á partir de então, seguir teu rumo à sua maneira. Vejo um lance meio familiar com as referências: é sadio olhar um rosto e ver traços de quem foi seu avô, seu pai, seu tio e etc. Algo que ultrapassa a tradição. Nunca fui boa reproduzindo e tanto que descobri que a falta de graça quando cito algo que foi engraçado tem a ver com isso. Não sei reproduzir como o que foi de verdade, reproduzo no meu ritmo. Enfim, acho que a reprodução é um dom porém as pessoas não respeitam a quem elas são e o que são suas origens quando reproduz algo ou alguém. Reproduzir tem hora e local para ser colocada em prática. Tem gente que pratica a arte da reprodução durante a vida inteira. Isso eu acho triste.





Jordana Braz

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Teoria da conspiração afetiva

Há um ódio discreto em meus olhos quando percebo que me tornei previsíva: me fixo em delicadezas sem nexos e faço disso um grande motivo para pensar, pensar e pensar. É apenas uma conversa, foi apenas uma conversa, e já é o bastante para me fazer flutuar. Essas falsas esperanças agem de maneira tão destrutiva que sinto que cometo mais um suicídio. É horrível se sentir apta e não ver oportunidade de execer tal talento. Creio que amar seja um talento e creio também que não me esqueci de como é isso. Quando eu sinto o frio na barriga, sei que não passará disso: eu com raiva da situação de sempre permanecer parada numa fila que só há interessados porém nenhum corajoso o suficiente para passar a catraca. O tudo que sei me atrapalha e meu cabelo espalhafatoso também. Pessoas normais, que se sastifazem com o Domingão do Faustão, músicas enlatadas e todo o artifício que é a sociedade tem uma felicidade que não sei se invejo ou começo a agradecer por ser da minoria. Sou meio perdida, tenho um mundo onde só eu exploro mas aceito visitas de vez em quando. Talvez seja uma atitude carente e solitária dizer que eu só queria um namorado. Eu sempre nego mas é bom confessar. Queria um menino bonito, de um jeito que eu acho bonito e só, talvez. Não sou ambiciosa, só queria alguém pra me esperar em algum lugar, no ponto de ônibus ou na fila do cinema. É boba a tortura que sinto por não saber o por que ele não faz piscar uma janelinha qualquer de mensagem comigo. É platônico, é doentio porque dói. É triste porque me faz triste, me recorda quando eu era criança e passava o recreio com a lancheira aberta e olhando a avenida pela janela, sozinha. Para minha mãe era uma gracinha ouvir a inspetora falar que eu seria a garota do tempo pois ficava olhando para as nuvens ao invés de brincar. Para mim era a única maneira de abstrair aquele momento. Não há como abstrair o momento da fossa, tudo conspira para te afundar ainda mais. Nem com palavras de afeto do tipo que te coloca no status de divindade. Se eu fosse divina, não me importaria em apenas fazer milagres e ter meu nome associado em ser firmeza, como é mais comum de se ouvir. Queria poder errar e mesmo assim ser amada por alguém. Sei lá, talvez o grande erro está em sorrir com o coração oco e um cérebro cheio de informação. Não é papo de mulher frustrada mas só as burras são felizes. E se for burra de nariz empinado ganhou na loteria. Mulher que fala de igual pra igual sem ser mais um homem, assusta. Não adianta, não é mais um ' ismo' mas pode ser instintivo. Ser mulher moderna não é nada fácil!




Jordana Braz

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os três dias

Caso um devaneio se repita por tempos, anos, ele perde o status de devaneio. Não sei, é um sentimento forte, um desejo, algo que se aflora quando me espelho em uma imagem que não possui meu rosto mas que de algum modo me tem alí. Vale os olhos lacrimejarem como um suspiro quando não sei mais o que pensar. É automática a condição humana de sempre sonhar em fazer de tudo em uma só vida. Eu já quis ser cantora, juíza e hoje me contento em não ser tão bonita. Me contento também em falar baixo, sorrir quando necessário e lidar com o jogo bobo de possuir alguma estima. É foda quando não há foda. É triste para não dizer que isso acaba comigo. Enfim, se eu pudesse ter mais uma vida que não fizesse diferença se durasse o suficiente para alguns grandes feitos... Fazer história é sempre melhor do que ouvir a história. Não possuo paciência de um bom ouvinte embora eu empreste meus timpanos para os meus verdadeiros amigos queridos que, ainda bem, são poucos. É inconsciente rever os últimos 362 dias que beiram um aniversário. Legal? Pode ser, é inevitável.







Jordana Braz