sábado, 9 de abril de 2011

Esmalte

O rosa colonial que preenche o espaço neutro de minhas unhas, o tom de rosa tutti-frutti do chiclete de minha infância e que são os mesmos tons, não os mesmo mas semelhantes, ao tom do rosa do lápis que usei para rabiscar algumas palavras. Talvez isso tenha feito meus sentimentos ficarem mais sossegados. É como se fosse um suspiro que tomasse forma, um descontentamento com as coisas que não estão direitas, uma cobrança de buscar por aquilo que ainda está em planos. A pressa de querer tudo para hoje, a boa sorte de primeira acertar, uma lacuna que se forma e se preenche apenas com a experiência de cair e levantar, um termo bêbado. Tudo vai bem para quem não está dentro de mim, tudo está morno para quem sou eu. Meus fragmentos de vida estão mornos, não há um sentido majestoso para tudo. Quando criança, o rosa tutti-frutti era o tom ideal para colorir minhas lngas unhas no dia em que eu fosse mulher, era uma sensação tão boa saber que um dia eu iria crescer e ter longas unhas. Era majestoso o encantamento que a minha mente tinha para quando chegasse esse dia. Hoje, se soubesse que somente ás vezes sentiria esse encantamento quando tivesse longas unhas, desejaria apenas viver em um encantamento eterno. Enfrentar demais a realidade é a verdade nua e crua, porém, a sensação que ela lhe causa, além do amadurecimento, é de estar diante de um abismo. (Jordana Braz)