segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Rascunho nº6

Chove uma chuva inédita para mim e ainda não consigo explicá-la, porém é doce a sensação de a olhar pela janela, sozinha dentro de um vagão de metrô vazio, algo inédito também; estou acostumada ver gente em todos os cantos do metrô, de qualquer estação. Quando desço do metrô, vejo muito mais gente e sigo contra a maré de pessoas atrasadas para um destino qualquer, seja trabaho, faculdade, família, amante... Tanta pressa precisa possuir um ponto de finitude. Dentre tanta gente, acelero os passos quando vejo no rosto de alguém, algum sinal de simpatia e por inúmeras vezes, meus passos são vencidos por uma sensação de ridicularização interna, perdeu a graça iludir-se com o acaso, desisto de ser eu mesma por algum momento. Confesso que tudo isso frustra, cansa ainda mais um rosto oleoso. O que resta é apenas comer algo, sem valor nutritivo mas com valor simbólico e calórico de suprir a necessidade de ter mais jeito com as pessoas. Eu não odeio, só não entendo as pessoas e para cada pessoa, um mini-pão de queijo eu mastigo. Óbvio que se fosse exatamente assim, eu teria que comer todos os pãozinhos de queijo já assados e os que estão no estoque de todas as barraquinhas de todas as estações de metrô de São Paulo. Eu não entendo Ser humano e ter humano até hoje é algo que me incomoda, possuir algo apenas para ocupar espaço, dispenso. É desgastante achar mais graça nas gotas da chuva na janela do que pela vida alheia. É muito frio o vento da indiferença e para mim, só me resta soprar e fazer de cada sopro um vento.








Jordana Braz

2 comentários:

Anônimo disse...

Tanta pressa precisa possuir um ponto de finitude.

Que texto forte. Gostei ;)

Claudia Bittencourt disse...

Adorei.
Tempos que não passava por aqui... =)
Beijos