segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ócio Afetivo

Sinto que já nasci viúva, sei lá, é um sentimento estranho. Parece que a salvação afetiva se encontrava anos luz antes de eu nascer. Minha viuvez não se resume apenas em relacionamento, me sinto viúva nos costumes, no modo de pensar tudo. É realmente estranho. Acho gracioso pensar que ainda há muitas coisas para inventar, a criatividade humana pode ainda ser inédita. Sinto saudade onde o pouco era muito, as pessoas deturparam a palavra ambição. Cansei das cores digitais, prefiria as cores analógicas e o preto e branco da Tv. As canções tão poéticas diziam tudo e tinha o gostinho delicioso de serem proibidas. Minha época é uma vadiagem, não existem mais malandros. Rede social poderia ser uma simples rede num lugar amplo onde os verdadeiros amigos estariam interagindo juntos e ali, sem o risco de ter uma página como sua representação. Eu sou viúva, já disse! Toda vez que conheço rostos e trejeitos de sujeitos como Marc Bolan, sinto que aquele espírito livre que gostaria de encontrar agora já existiu anos antes e que estes rebeldes já morreram. Com trinta anos ontem, você viveria o que equivale os 45 anos hoje. Minha geração é infantil. Homens barbados e mulheres feitas com medo do mundo, presos em seus quartos e numa adolescência que já se fez poeira. É dificil, não consigo esperar mais nada do que a certeza de que tudo tem validade. Não há quem possa ser um cúmplice como meus avós foram um com o outro. Esse tal amor é descartável. Sou viúva do gostinho de quero mais, esperar uma madrugada para ver um simples clipe na MTV e ainda registra-lo no VHS. Hoje em dia os hits duram segundos, antigamente eram minutos. Sou viúva, me sinto velha e cansada. Eu nasci assim e os dias só agravaram esse meu estado de ócio afetivo, já não consigo gostar das coisas como gostava antes. O problema está em mim mas a causa é gritante a olho nú.




Jordana Braz

Um comentário:

Lizzy disse...

Eu venho sempre aqui por que voce me representa. Eu amo seu blog, queria saber me expressar de forma tão incrível e poética como você faz. Mas não sinto falta do talento que não tenho por que você está aí e represente mais pessoas do que só a mim e ainda assim consegue manter uma individualidade e ser única. Obrigada por existir.