quinta-feira, 12 de março de 2009

Coração em um quarto

Noite, calorosa noite. Enquanto muitos dormiam cobertos por lençóis lavados, sozinhos ou acompanhados, Joana pintava as paredes. Ela poderia pinta-las á tarde, durante o tempo entre a pestana do almoço e o café da tarde mas não, era á noite que a solidão apertava. Paredes de um quarto, seu quarto. Quantos sonhos já ficaram limitados entre aquelas paredes na mente em sono de Joana, quantas orações a Deus, quantos devaneios, surtos e Tpm perdidos naquele espaço… um pequeno mundo. Um quarto e lembranças de amores perdidos. Era essa a causa da solidão e da pintura noturna da moça em seus 20 e poucos anos.
Joana não tivera muitos romances mas estes não muitos foram realmente amados por ela. Talvez somente por ela. Amava pelos dois. Um desequilíbrio visto por todos menos por ela, que só costumava a ver esse descompasso meses após a última lágrima do rompimento que até então não foram decididos por ela.
- Minha filha, isso passa… - dizia Dulce, mãe de Joana.
- Moça carente… - diziam os rapazes da vizinhança.
- Mulher chiclete demais, vixe Maria! - diziam seus ex-homens em coro.
- Um dia você muda, Joana! - pensava Joana sobre si mesma.
Pensava… um dos seus hobbies favoritos era esse, além de se contemplar ao espelho, cozinhar e pensar. Joana perdia-se em meio a tantos pensamentos. Um a ligava com a existência ou não de um átomo e outro com respostas que ela deveria ter dado á fulanos na infância. Se átomos existem ou se aquelas respostas de criança seriam corretas, tanto faz. O que incucava mesmo a jovem era o por quê seus romances terminaram. O que teria feito ela para que tudo que era lindo, perdesse a graça... E quando um desses por quês apareciam nos pensamentos, a punha em conflito com sua estima. Joana era uma jovem bonita, não era o padrão, dificilmente estamparia uma revista de fitness ou um catálogo de biquínis, mas era bonita sim. Dentuça, tornava seu sorriso gigantesco. Um sorriso iluminado que constrastava em harmonia com sua pele mestiça de cor firme. Magra mas com barriga, Joana gostava de usar vestidos, lindos e floridos.
E o pincel movia-se sobre as paredes. Tinta verde escorre sobre ela. Uma parede que já foi amarela, roxa e massa fina. Tijolo e cimento. O pincel alternava com um rolo com lã de carneiro. Pobre bichinho… E o sono aperta, bocejos a cada 5 minutos expressam o cansaço. Quem pintaria o quarto no decorrer da madrugada? Só Joana. Ela tem pressa. Não quer mais ver a parede amarela, assim como na época em que trocou o roxo pelo amarelo. Confusa. Aquelas paredes sabiam demais, as cores nelas traziam cheiros. A sinestesia trazia para Joana todos os momentos e o rosto que ela queria esquecer. Precisava esquecer.
E esquecerá... assim como já se põe o dia pela janela do quarto, o coração de Joana se faz madrugada.

Jordana Braz

8 comentários:

Nathália Monte ;D disse...

caramba teu maior texto!mas o q mais passou sentimentos!!
tudo passa..

M. A. Cartágenes disse...

A parede à minha esquerda é minha amante, o teto acima de mim meu melhor amigo e confidente!

Se Joana existir, passa telefone!

Paz e ótimo texto!

M. A. Cartágenes disse...

Bem, se ela existe, eu gostei dela (por favor não me entenda mal), tudo que é muito contraditório ou complicado me interessa, mesmo que para analisar ou sorrir!

E pode deixar, voltarei aqui sempre!

CAMILA de Araujo disse...

Que lindo e intenso texto!
Gostei da Joana :D

www.casadobesouro.blogspot.com

-rayane- disse...

Adorei, belas paredes devem ter ficado estas pintadas pela Joana!
Vc ia tentar UnB?
pensa em cursar qual curso?
Besos

:* nhac

Ludy Van Pelt disse...

Joana é um amor de pessoa..mas não acha ser a pessoa do amor. Eu acho Joana esperta,apagar com tintas o que fica exposto,porém me pergunto: o que acontece onde o pincel não chega?

Unknown disse...

que saudades ... =]

Tullio Andrade disse...

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